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Nadi

Ignoro a forma do porquê do teu sorriso, ignoro porque se moldam os teus lábios desse jeito, Nadi, de cada vez que te chamo, por esse nome. Tu, hoje, estás naqueles dias em que não percebes porque me encontro assim. Dizes-me estranha. E, no entanto, sinto-me perfeitamente bem e normal. Perguntas-me se aconteceu algo e abano com a cabeça. Nada Nadi. Não aconteceu nada. Hoje não é um dia diferente de ontem, nem tão igual ao de amanhã. Hoje choviscou em cima da minha cabeça pequenas gotas de orvalho que nem chegaram a tocar-me o tecido do corpo. Mas era bonito sentir carícia anti-fisicas da agua miniatura.
Alguém perguntou onde ficava o metro. Disse-lhe que não valia a pena explicar, bastava seguir-me. Ele contou-me que era parecida a uma senhora que conhecia. Terrivelmente parecida só que mais nova. Talvez essa senhora fosse mesmo igual a mim quando da minha idade. Agora era casada e já andava um pouco longe dos trinta. Expliquei que também já lá andava perto. Não acreditou e eu não me importei. Continuei a ouvi-lo chamar-me menina. Menina-isto e menina-aquilo. Agradeci porque nesta vida devemos ser sempre gratos pelas coisas bonitas que nos dizem ou nos fazem.
Os nossos passos apressaram-se. O orvalho transformou-se em chuva e olhei para cima onde debaixo de um céu bipolar, entre o cinza e o azul, parei para roubar um pouco de um dos dois arco-iris que nasceram, só para interrogar-me, outra vez, porque é que se moldam os teus lábios cada vez que te chamo Nadi.

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