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Se tiveres, nem por instantes, o que de mais precioso há em mim entre as tuas mãos, algo de pequeno e provavelmente insignificante, não o esmagues nem o partes. Finge que nada tens por entre as palmas. Feita de excessos e de lacunas, perco-me por ai, principalmente de dia, pois, não há muito espaço por onde me esconder. Vês? Tens, aí, por entre os dedos pedaços de matéria: uns sonhos e uma réstia de fé com umas brechas remendadas aí no meio. Não sei se ainda funciona. Se ainda serve. É tudo o que tenho e pouco mais me sobra para além disso.

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18/100 – Soneto

Dedicado a João Horta, ps: as flores não se comem.. De dia nem existem assobios Rua quieta com gente inexistente Entre uma esquina e avenida sente-se diferente Ligeiramente nitroglicerina, sem boca, sem olhos Seu nome não está escrito em parte alguma O corpo, este, desencaixa-se dos hábitos É um autocolante da cidade dos danificados Talvez pertença aonde o seu regaço não se consuma É turista na terra de ninguém É dama-viagem, Dama-sem-vintém Dama de romance, do poema mas Dama sem miséria Sua vontade de faminta, é outra E se ela cola-se nos teus braços agora É porque também não a mandaste embora.

Or

Não te cobiço mais do que aquilo que te posso querer Não aguardo confiscar jamais esse teu burocrático desprezo Por isso, seja eu o que for não desejas: A pele esfolada, as carnes arrancadas por venerada dor Ou cor hemoglobina despejada de umas veias fracas que circulam neste cadáver ou melhor: neste esqueleto que segreda o teu amor.