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Recordas-te da primeira palavra, palavra que ouviste?Do primeiro sabor, o sabor que sentiste?Da última expressão que usaste? A expressão, as rugas que engelhaste? E no entanto, lembraste de muitas coisas no meio. Do meio de muitas coisas. Daquele vestido que viste, do beijo que provocaste, aquele momento, do além lugar, onde estiveste e do pouco fizeste? Do meio. O meio parece ser importante. Sublinhaste. Marcaste. Parece ser o lugar e acção onde te encontraste com mais frequência. Faz sentido. O meio… Diz-se: «No meio está a virtude.» Porque a primeira vez nunca é tão especial quanto à expectativa e o último desejamos que não tivesse acontecido…, amargo o final, não é? Ou triste. Vazio provavelmente. No meio faz sentido. No meio não pensamos quando começa nem quando será o derradeiro ponto final. O meio. O termo. A palavra. No meio está o esquecimento. Da primeira palavra e da última que não tardará. Talvez no meio esteja a real felicidade. Conformismo.

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18/100 – Soneto

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Or

Não te cobiço mais do que aquilo que te posso querer Não aguardo confiscar jamais esse teu burocrático desprezo Por isso, seja eu o que for não desejas: A pele esfolada, as carnes arrancadas por venerada dor Ou cor hemoglobina despejada de umas veias fracas que circulam neste cadáver ou melhor: neste esqueleto que segreda o teu amor.