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Mensagens

A mostrar mensagens de fevereiro, 2006

Or

Não te cobiço mais do que aquilo que te posso querer Não aguardo confiscar jamais esse teu burocrático desprezo Por isso, seja eu o que for não desejas: A pele esfolada, as carnes arrancadas por venerada dor Ou cor hemoglobina despejada de umas veias fracas que circulam neste cadáver ou melhor: neste esqueleto que segreda o teu amor.

Curta Poética

Ela encontrava-se casualmente achada num bairro/avenida igual a tantos outros idéns. Por mais que não soubesse o regresso procurava um qualquer brilho de um déjà-vu em cada um …as expressões, feições - de cada trato eram-lhe familiares e dispersos (como se de um sonho se tratasse) Seguia caminho entre cada uma delas por um fio invisível, transparente, ou seja: mais como uma corrente. Mas jamais nunca atrasava a hora de um prato confeccionado nas suas engelhadas mãos. [Depois ouvi dizer alguém que ouvir histórias de outrem justifica para que hajam tantas novelas em Ourém]

Matavas por um café?

Matava por um café e por dois: vendia qualquer parte do meu corpo Esquartejava membros tronco e braço até sobrar somente as carnes O que eu não faria para me auto-chacinar só para me ter tão perto de ti… e a um café.

Apartamento

Teu contacto sem peruca nem truque Sem silicone nem outros afins Apartamento da frase, da palavra, da letra Apartamento de presença da cachaça cerebral Do ópio, do ócio, da óbice no paleio De imprecisão ou não [Dás-me um cigarro dos teus?] Sem cacha, manha ou trama Estar aqui somente ao degelo de nada dizer, fazer somente com comer teu estar cá e beber outra garrafa de ‘gin’ delinquente [E lume já agora…] Sentir, ser e depois coser O mundo em retalhos na epiderme descalça dos pés ermíssimos Fumar num bafo teu hálito Colando a boca no silêncio e no omisso Moscando-se o apartamento no delito.

Putas em saldo

Por um instante – poderei ser tu? Nu, num cubículo a teu gesto Sem preço nem apreço Sem falas nem falhas de um ciúme interior assumido, fundido em disfarce exagerado: - frescas, inventadas – negativos bolorentos d’entranhas de uma pré-amante em estado de cinza-stresse por um instante seres eu, Arde, mas sem nenhuma introspecção ou qualquer interrogação de um talento ou jeito meu de cama Sê cego. Cego para não veres semente de mulher que mais quer que crê já que meu tristes olhos: dois conspiradores que moram na face, são peixes chamuscados pelo silêncio do meu senso E sê mudo, por favor, sê mudo que as palavras que tão bem se encaixam entre os teus dentes jamais nunca seja a pontuação de uma estúpida prece de alguma puta barata rasgada que semeia-se em mim Por um instante, fode-me!

Palhaços Sorumbáticos

O limiar da loucura perdura, pendura E pergunto: espantalho meu, espantalho meu! Haverá gente mais estúpida que eu? É certo e sabido não responde, não mexe nem remexe a zona do pescoço É frio e calado o imóvel dejecto E ainda mais triste como o seu novo chapéu-coco Arranca e amassa, no entanto Como besta farpada de bichos mortos As verdades que me estão entranhadas nos pesados sapatos É que se, Eu, gente, fosse mais estúpida E de mim sobrasse anja ignorância Não serei, Eu, gente, o mais feliz dos palhaços sorumbáticos? Não serei? Hã?

Na Forma de um Primata

Eles não andam por ai. Não estão a espreita, nem equivocados ou enganados. Senão já os tinha encontrado Não vejo mas hoje sinto, não quero ninguém conformado. E fico entediada com tudo o que a vida mexe. Quero mais e quero já, tudo e alguém. Sentir o aperto de um nó no estômago ver se existe mais algures uma pimenta ou outro tempero numa coexistência de amores burocráticos, ou seja, uma assassina de aborrecimentos na forma de um primata dotado.