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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2008

11/100

A cor dos teus olhos que é de azul mais claro que a redoma do mundo, tem um rasgo circular de amarelo que não se sabe bem o que lá faz.

10/100

Beleza das coisas feias - coisas, jazz, palavras e imagens que não saem dos ouvidos com tanta facilidade com que desejaríamos. Um dia provavelmente com Alzeihmer vou esquecer.

9/100

Deram-me um livro com páginas brancas, um caderno de capa dura e negra onde com tamanha velocidade escrevi o teu nome - repetitivamente. Quando alguém foi ler, só encontrou o traço de uma paisagem de quem não sabe como chama mas de quem se vê em cada grão d’imagem.

8/100

Esta terra que não me conhece Tomei-a como minha porque a pisaste Esta terra que não me pertence Tem canções que aprendi de cor Porque tua boca, com que a minha língua se sacia, as pronuncia mais altas do que ao meu nome Esta terra que me trata como criança bastarda Abracei-a no jogo do faz-de-conta que é Pedaço de todo o meu amor, é de todo o meu nada de meu que não Tem chão nem canção que te possa ensinar.

7/100

Só poemas enterrados nas palmas para te dar Só mãos feias sem mais outros sinais Sem mais outras chagas para poder mostrar Que aquilo escrito é tão mais do que meras palavras pequenas sem sentido E tomara, por ventura, que a minha boca tivesse a mesma certeza bravia que a ponta Desta caneta alcoviteira

6/100

Oxalá, Iemanja, fosse o meu corpo molécula de água que se espalhasse pelo deserto da pele Oxalá, Iemanja, não pudesse eu ser matéria para explodir-me pelo ar e ter o direito da inocência do abraçar. Oxalá, Iemanja, que as minhas mãos acalmassem seu fogo, gelassem está vontade humana e não fizesse de mim mais mulher. Oxalá, Iemanja, me concedesses este amor ou me matasses engasgadas de pérolas de dor. Satisfaz, Iémanja e oxalá, o teu capricho será de haver maior bem do que morrer d’amor.

3/100

Diferente. Toda a gente sente de modo desigual o mesmo vocábulo: amor. No entanto, cada um entende, de todos os jeitos que é amor. É de cada qual, em procedimentos distintos e inequacionáveis que ninguém realmente sabe o porquê de toda a gente perceber que é do mesmo que se fala.

5/100

O meu coração é nómada Minha mãos são peneiras sem destino Nasci em lado algum com pés irrequietos A minha alma não tem onde ir Não tem chão, não tem tecto Sou estranha em terra de ninguém Com um céu aberto no seio direito Procuro uma campa provavelmente para Esconder todos os mapas d’um incomum lugar De tijolo que é meu bilhete de identidade

4/100

Se tiveres, nem por instantes, o que de mais precioso há em mim entre as tuas mãos, algo de pequeno e provavelmente insignificante, não o esmagues nem o partes. Finge que nada tens por entre as palmas. Feita de excessos e de lacunas, perco-me por ai, principalmente de dia, pois, não há muito espaço por onde me esconder. Vês? Tens, aí, por entre os dedos pedaços de matéria: uns sonhos e uma réstia de fé com umas brechas remendadas aí no meio. Não sei se ainda funciona. Se ainda serve. É tudo o que tenho e pouco mais me sobra para além disso.

2/100

Entre um dia bipolar plagiado do meu estado (de apaixonada) entre a euforia dopada de um oniricismo e o peso de certeza pessimista rezo, então, (pouco há a fazer) para que as palavras não pulam de fora do caderno gasto e me vão denunciar junto das tuas orelhas que não sabem, nem tão pouco querem imaginar a forma da curva das minhas.

1/100

Sou eterna terra seca de Inverno, a terra/areia laranja a fugir para o castanho onde cada pedaço de flora deposita os seus restos mortais para me esconder. E se quando outra estação inovar e meus membros não enferrujar talvez tenha força de abrir a boca e dizer: amor. Sei que as minhas mãos são feias e o seu toque é pueril. Brinco com barro e parto pratos de porcelana. Sei que não sei andar, nem tão pouco encaixa a minha casca nos teus braços. A minha alma é farpada e gatinho até ao ninho porque não sei saber se diante ti, belo amigo, se os meus olhos por vezes ausentes enterram a minha boca de te dizer cada rotação do meu coração porque não sei saber que se reinvento cada noite contigo. E se ao contar os meus segredos contidos, não sei saber se te mato de tanto amor ou de um simples susto.

Nadi (último texto) - Desligar-me da tua presença

Vontade de fugir. Esconder de um mundo real que pouco tempo/coisa tema dizer, aprender. Estou com vontade de me esquecer, entregar-me ao ópio da cobardia e reinventar o mundo só meu dentro da casca de uma voz e dizer-te adeus. Vontade de deixar de gritar… Na Segunda-feira esperei que me ligasses, esperei que as tuas palavras vagueassem pelo meu ouvido em forma de convite para me veres. Mas nesse dia a tua voz calada, como habitualmente nestes últimos dias, em roteiro monocórdico de uma boca ansiosa por presença tua. E, no entanto, não te quero mais, jamais poderei voltar querer. Não penses que seja fácil o meu adeus. Que a minha ida contraria a tudo o que desejo é um fulcro de prazer. Pelo contrario. Mas é com a garganta seca e o olhar de quem ainda procura alguma réstia do teu nome - Nadi. Porque este já não te pertence, já não o sinto quando o digo. Já não o vejo no teu sorriso, na tua vaga concepção de uma vida idílica à qual ansiava tanto pertencer. Da noite para o dia: cresci. Tal

fazer mexer

Raramente paro para pensar. Penso constantemente em cada acção executada. Poderei parar de agir mecanicamente, como se tivesse receio que o meu corpo se avariasse mas a esponja craniana está em constante actividade insaciável. Não é que a sua produção seja um resultado de interesse, pois mais de um terço de todo o seu processo químico intelectual é armazenado no esquecimento. Daí, em parte, a necessidade de me distrair com o verbo “fazer”. Fazer coisas. Fazer nada. Fazer tudo e mais alguma coisa. Ou, simplesmente, fazer o contrario de fazer. Mas essencialmente…, sentir-me a mexer.

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«- Também queres ir embora?»; perguntou. A isso, ela inventou daquelas respostas instantâneas inspirando-se no que toda a gente diz. Fugindo com subtileza desastrada da sensação de desconforto que era estar na sua pele. Sacudia-se, mexia-se, evitava qualquer coisa e tudo para deixar de sentir aquilo - sensação ambígua de noção que o corpo tem quando o coração simplesmente se sente bem. Provavelmente ela devia ter-lhe dito a verdade: ainda não tinha partido porque o encontrou. E sentia-se feliz com isso. Mas com o mudar das circunstancias, com o “voltar à normalidade” de uma vida solitária; o instinto nómada ressurgiu. De cada vez que o vento lhe empurrava o cabelo em direcção ao nariz era uma voz omnipresente a relembrar-lhe que ali não era o seu lugar. Ela devia ter-lhe dito a verdade. Talvez os seus olhos o tivessem confessado se ele soubesse (ou quisesse) ler. Em vez disso embarcaram em conversa de futilidade ligeira, riram, brincaram como se estes dois fossem velhos amigos e nunca

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Achei que ia morrer de tristeza. Irremediavelmente, iria deixar o meu corpo cair em manifesto de dor. A autentica dramatização de um ego ferido pelo abandono, pela rejeição. Chorei descompassadamente a ironia de sentir a magoa. E ria-me porque chorava. E voltava a chorar porque, afinal, não tinha graça nenhuma. Quando acordei, no dia seguinte, não senti nada. Nenhum conforto mas também não algo que pudesse repudiar. Simplesmente: nada. Quando desci as escadas porque estava atrasada para qualquer coisa lembrei que ele tinha a mania gentil de juntar as migalhas da mesa e esta imagem começa a cantarolar na forma de um sorriso. - Ele juntava as migalhas com a ponta do dedo mindinho!

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Coisas lamechas. Aquele tipo de musica, o marroquino com as flores que cheiram mal, laço rosa choque e a recordação daquele momento. O carinho. O toque que recorda pó de talco. Sei lá…, o que é algo lamechas? Tudo o que queremos, e não desejamos admitir? O amor? O carinho não é um método de dizeres, é algo que se exprime na acção do corpo e uma materialização de um verbo que já não se usa com tanta frequência…, ou então gasta-se demais e depois somos obrigados a remenda-la. Eu acho que é chato usar palavras remendadas. Sejamos sinceros, toda a gente, independentemente do sexo, idade, estatuto social ou mental tem como objectivo fundamental encontrar a concretização plena da sua deficiência emocional. Não sei que palavra usar: plenitude ou felicidade? A metade - preencher algo que está vazio. Por isso todos vão concordar que faça sentido ela estar a espera dele. Está sentada, ali, a escrever fingindo estar completamente absorvida. Por isso, também, faz sentido que de tempos em tempos o

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O mesmo banco e o mesmo estado de espírito. Hoje sai de casa e ao descer as escadas do meu prédio senti o teu cheiro, mesmo sabendo que só vieste uma vez, e provavelmente, não voltas. Não posso afirmar que tenha saudades tuas. Somente desse dia em que éramos felizes. Tu agora já não me dizes coisas bonitas nem me olhas da mesma forma ou pronuncias coisas como: - «Cheiras bem.» As vezes fixo-te quando estas distraído a espera que me devolvas o olhar mas ao invés disso perguntas: - Porquê essa cara séria? Descobri então, hoje, que tenho mais falta de ti quando estás perto do que quando estás a milhas de distância.

(...) .1

Vejo o sol a brilhar e, no entanto, cá fora sente-se o frio e o cinzento a querer chegar. Tenho duas horas pela minha frente sem fazer nada. Começo achar que é tempo de organizar melhor as minhas horas. Não quero. Não me apetece. Sinto que tudo a minha volta é uma questão efémera como se amanhã nada disto sobra. Nada disto prevalece. Ao inicio tinha medo. Agora ignoro, é me indiferente. As pessoas deixaram de ser gente com rostos próprios e ouve-se dizer nas estradas da minha cabeça que são cadáveres andantes decapitadas. Eu desconfio, que na verdade fui eu assassinada.

História que não bate (certo) duas vezes

texto datado de há cerca de 2/3 anos atrás... “É mais uma história mal contada.” O comboio faz-se ouvir de perto, fecha a revista, joga-a em cima das outras espalhadas por de cima da mesa quadrada. Enquanto que volta a olhar para o relógio de pulso. Suspira. Alto. Devastadoramente. Está nervoso. O tempo está a escoar rapidamente. E tudo lhe é visível. Mexe e remexe-se na cadeira. Fixa o chão. Fixa o tecto. Fixa os lados. E o olho descai-lhe para o cenário urbano escuro e vazio da janela. Falta pouco para as quatro da manhã. E olha para ela. A mulher objecta. E se metesse conversa, com ela? Ela, a mulher objecta. Passar o tempo…, a espera, o ócio. Breve. Sentada de perna cruzada com o olhar caído e disperso num livro. A mulher objecta, não pestaneja. Em vez disso vira as páginas que funcionam como contador de compasso de tempo aleatório. Substituição dos ponteiros monótonos, insípidos. Vira. Pára. Vira. Pára. Vira. Vira e volta a parar. Ele gosta desse ligeiro ruído. Gosta da lentidão

http://bloguedasartes.blogspot.com/

Heis aqui um "novo" site para consultar diferentes trabalhos nas diversas áreas das artes que a partir de hoje vai contar com (alguma) participação minha. Confesso que o desafio me deixa um tanto ou quanto apreensiva, dado que me estou a misturar numa multidão de talentos (mais de 61 autores se não estou em erro). Enfim, a exploração deste site é vivamente aconselhado, daí desejar aos meus leitores uma boa jornada.