«- Também queres ir embora?»; perguntou.
A isso, ela inventou daquelas respostas instantâneas inspirando-se no que toda a gente diz. Fugindo com subtileza desastrada da sensação de desconforto que era estar na sua pele. Sacudia-se, mexia-se, evitava qualquer coisa e tudo para deixar de sentir aquilo - sensação ambígua de noção que o corpo tem quando o coração simplesmente se sente bem.
Provavelmente ela devia ter-lhe dito a verdade: ainda não tinha partido porque o encontrou. E sentia-se feliz com isso. Mas com o mudar das circunstancias, com o “voltar à normalidade” de uma vida solitária; o instinto nómada ressurgiu.
De cada vez que o vento lhe empurrava o cabelo em direcção ao nariz era uma voz omnipresente a relembrar-lhe que ali não era o seu lugar. Ela devia ter-lhe dito a verdade. Talvez os seus olhos o tivessem confessado se ele soubesse (ou quisesse) ler.
Em vez disso embarcaram em conversa de futilidade ligeira, riram, brincaram como se estes dois fossem velhos amigos e nunca se tivessem desejado.
Ela devia-lhe ter dito: “- Não é querer ir embora, é simplesmente não ter nada que me faça ficar.”
O comboio abriu as portas as 17.03, ponto. Ela entrou e achou que lhe devia dizer que ele podia ir embora mas ao invés disso, ele abraço-a e isso foi, sem dúvida, algo que ela não entendeu.
Em vez de qualquer outra coisa, só respondeu: - Não tenho frio.
Durmo e não durmo Vejo e vejo escuro. Sinto ou dessinto-me É mais vazio e desfasamento de mim própria como areia a deslizar entre dedos finos da cachopa que já fui e muitas das vezes já esquecida. Gostava como criança perceber donde vem. Para que possa corrigir esta errata que faz de mim pessoa. Esta noite sonhei com gatinhos mortos a decompor-se num jardim arranjado. Noutra parte o cão que sempre quis e um momento, a realidade dá um estalo ao meu cérebro Noto-lhe na parte traseira da sua perna que lhe falta o lombo, cortado de fresco. Eu queixei, gritei, implorei ajuda. Mas somente acordei no meu proprio vomito E foi difícil voltar adormecer. E é verdade. Durmo de mais ou não durmo de todo. Na minha cabeça consigo fazer tudo mas o meu corpo recusa-se. Sendo assim deixo-me vencer. Deixo andar. Planeio o meu funeral. Os details. Não o meu caixão mas como deixar o meu mealheiro a quem de bem tenho no meu peito. Faço notas e list...
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