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Suicídio fingido II

Durmo e não durmo 
Vejo e vejo escuro.
Sinto ou dessinto-me
É mais vazio e desfasamento de mim própria
como areia a deslizar entre dedos finos da cachopa que já fui
e muitas das vezes já esquecida.

Gostava como criança
perceber donde vem.
Para que possa corrigir esta errata 
que faz de mim pessoa.

Esta noite sonhei com gatinhos mortos a decompor-se num jardim arranjado.
Noutra parte o cão que sempre quis e um momento,
a realidade dá um estalo ao meu cérebro 
Noto-lhe na parte traseira da sua perna 
que lhe falta o lombo,
cortado de fresco.

Eu queixei, gritei, implorei ajuda. 
Mas somente acordei no meu proprio vomito
E foi difícil voltar adormecer.

E é verdade. Durmo de mais ou não durmo de todo.
Na minha cabeça consigo fazer tudo
mas o meu corpo recusa-se.

Sendo assim deixo-me vencer. Deixo andar.
Planeio o meu funeral. Os details. Não o meu caixão mas como deixar o meu mealheiro
a quem de bem tenho no meu peito.

Faço notas e listas de cabeça para mais tarde anotar 
em testamento pousado sobre a mesa da sala com um cheiro a cera de mel.

Eu sei que estou a gritar ajuda numa folha de papel. E não me olho a mim própria arranjar as minha últimas forças
E não encontro mais.


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