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#1

Não sabe quando vai parar. Nem sabe se vai. Porque é que quere que isto pare? Para que é que quer reestruturar-se? Para que serve?
Dói. A dor não lhe é agradável. Quer que passe rápido. . Quer sentir-se ligeira, segura. Confiante. Quando é que ganhou e quando é que perdeu? Medo: será que alguma vez a teve? A confiança?
Ela tem que olhar em frente. Reconstruir tudo desde a base. Não pode responder levianamente, só para despachar. O exercício pergunta/resposta incomoda-a.
Maiêutica.
Quem é ela? Ela é ela. É básico. Tem um nome porque alguém o escolheu para ela. O nome não lhe desagrada. É fora do usual. Lança alguns olhares sobre ela. Mas ela não gosta disso. Não gosta de ser o centro das atenções. Então porque que é que gosta do nome dela? E porque é que não gosta de ser o centro das atenções? Porque se sente desconfortável. Sente-se julgada. E assim fica nervosa, com tendência para cair no ridículo. Simplesmente porque se sente obrigada a falar. Ela não gosta de falar. A menos que tenha realmente algo para dizer. Algo que tenha acção. Algo que tenha reacção no outro e assim, esse alguém, um dia mais tarde irá recordar-se dela.
Ela gosta do nome porque é fácil de decorar.

Tem 23 anos. Com 23 anos, percebe que deixou de existir. Mas o que é que a faz existir? Quem é ela? Do que é que ela gosta? Ela gosta de ler. Ler para viajar mas também para aprender o acto de fazer viajar outros como ela. Não quer propriamente ser uma grande escritora, só o suficiente para poder escrever.
Gosta de entender as palavras e responder exactamente ao que elas significam, mas não é muito boa nisso, o que faz com que caía no ridículo. Por isso gosta de arrumar as palavras no papel. Ela pode risca-la. Enquanto que o som da palavra espalha-se no ar e fica gravado na memória dos outros. E como tem um nome fácil de ser decorado, será imortalizada pelo ridículo!

Nota: Ela preocupa-se com o que os outros pensam dela. E luta com todas as forças contra isso. Quer ser alguém que não se preocupa. Como resolver isso? Entre o querer e o que se é irremediavelmente? Ela não sabe. Talvez após a reestruturação essa necessidade desapareça. Porque quando se constrói uma personagem, é claro que se quer que ela seja produto matemático do idealizamos. Solução: Matar a personagem.

Ela gosta de desenhar. Gosta porque é algo que sabe fazer. Não é um grande desafio. Aborrece. Raramente pensa no que está a desenhar. Deixa simplesmente as formas definirem-se aleatoriamente. Mas ela gostava de desenhar. Antes. Porque é que acabou? Produto do acaso, logo o resultado não é algo que ela tenha imaginado. Resultado: frustração.

- E dantes era diferente? Não me consigo lembrar…

Objectivo: Voltar a ganhar o gosto pelo desenho.



#2

Ela gosta de andar e perder-se nos seus pensamentos. Criar histórias ou conversas imaginarias sem se preocupar em acaba-las. Porque é que faz isso? E não com pessoas reais? É uma questão de controlo. De manipulação. No centro do seu imaginário, ela controla o sim e o não, enquanto que no real podem desfazer todas as suas certezas.

Ela gosta de partir pratos. Marcar a diferença. Gosta de levantar a voz para que a oiçam. Mas para que serve se não acredita no que diz?

- Porra! Eu sei quem sou! Sou aquela que é amada ou odiada! Sou frágil mas não inquebrável!

Ela consegue adaptar-se a toda a gente, e assimilar tudo o que quiserem dar. Gosta de aprender quando é algo que lhe é útil. Funcional.

Sim, ela acredita em Deus. Como é que não poderia acredita? Não teria imaginação suficiente para toda a porcaria que tresanda a volta dela. Acredita porque tem . Tem força.

- Eu sou a força. Posso não saber todas as respostas, posso ainda não me sentir completa mas é isto que sou: força! Sou uma conquista todos os dias.

Ela perdeu-se porque poisou as armas e esqueceu-se que tinha um feitio de merda. É uma insatisfeita que ainda não sabe o que quer da vida porque, segundo ela, esta ainda não lhe apresentou todas as opções possíveis. Vai experimentado. As derrotas são amargas e sabem a tomate cru. Mas ao menos sabe que é exactamente essa opção que não quer seguir. O seu objectivo não é ser feliz. É sim, saber viver. E saber ensinar. Saber acordar. Não para ensinar como viver, isso é no mínimo ridículo, mas para ouvir menos queixumes da parte dos outros. Dá-lhe um certo gozo perceber como funcionam as regras do jogo. Não por ser superior mas porque é na realidade a sua própria psicanálise. Através dos outros, ela revê-se. Nesse reflexo aprende a crescer. De cada vez que ouve um obrigado, não sente satisfação. Para quê? Fora ela quem pediu ajuda.
Defeitos e qualidades, não interessam dissecar, ela quer ser humana. Um pouco mais invulgar é certo. Mas humana
Não precisa de saber para já porque é que está cá e para onde vai, desde que esteja pronta na hora e no local preciso quando for necessário é tudo o que precisa. E ela sabe que estará. A própria o disse, ela é a força.

- Não posso voltar ao que era. Mudei. Mas terei todo o gosto em voltar a conhecer-me.

Ela poderia acabar hoje com isto. Tem força suficiente, e ela sabe disso. Já não tem um turbilhão a sugar-lhe a entranha. As coisas, - pensamentos, sentimentos, emoções, ideias, entre mais fait diver – ainda lhe estão desarrumados na cabeça mas agora já é mais pratico para arrumar e limpar a confusão de 23anos. É deixar fluir. Tão simples quanto isso.

- O Primeiro passo está dado…
- Agora precisas de parar de controlar a [tua] vida e tudo o que te rodeia! Mulher tens fé,
o que é que pode correr mal?



Comentários

HR disse…
Não ha nada que o tempo nao faça esquecer, mas é nesse mesmo tempo que constrois aquilo que es... No fundo nunca mudamos, apenas disfarçamos de outra personagem, em outro papel em outro filme, mas ao fim do dia na cama ao adormecer somos sempre nos... Mudamos por fora mas por dentro somos sempre nos....
Anónimo disse…
Nao percebeste nada do que leste. Aconselho a releitura,

Lara Fanny
Anónimo disse…
Eu sei que a pergunta era retórica... Tudo pode correr mal, mas quando o pior é ter de recomeçar do nada, o melhor que pode acontecer é aprender com o passado. Com os erros, com os não-erros. E sim, o que é que pode correr mal? Mal só corre se se estagnar, se não se aceitar o devir. E o importante é fazer as coisas um passo de cada vez. Aceita-lo. Tal como o nome, é aceita-lo. Principalmente quando tem um significado mitologico. Honra-lo desse significado.
E ter conversas inteligentes de vez em quando. Eu gosto de conversas inteligentes...

:: Agnostic Christ ::

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