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Gosto de histórias que começam na c a m a. De lençóis desarrumados com d o i s corpos opostos desnudados de pudor e cobertos de suor e saliva. Gosto de ver os membros flácidos e relaxados, abandonados à satisfação da r e s p i r a ç ã o assimétrica. Ver a inércia do olhar para o nada, enquanto que instantes antes, estavam eles a decorar toda a n a t o m i a, ciência e biologia da estrutura molecular que os compunha em cheiro, textura e outros sentidos.
Gosto do simples depois, e mais ainda: do antes. Imagina-los no corredor. Brincarem com a resistência das paredes, andarem no tropeço com passos cheios de ansiedades e finalmente, ouvir o titilar das chaves contra a f e c h a d u r a.
Gosto quando ele olha para ela, mesmo que não esteja a olhar. Na verdade, está fixo a olhar para o tecto e fuma o cigarro em câmera lenta. Finalmente, ela vira-se para ele. Encosta o seu c o r p o ao dele. Ele roça o nariz contra o dela. E agora, sim, olha para dentro do olho dela. Queria falar, mas não sabe o que dizer. Ela percebe. As mulheres têm tendência a perceber melhor as palavras no s i l ê n c i o.
E o que gosto mesmo, o que melhor saboreio, é quando ela sorri. Solta o largo sorriso que encolhe o seu olhar, inclina-se sobre ele, e deixa-lhe um gosto de a m o r na boca viciada.

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