Avançar para o conteúdo principal

Nadi

Ignoro a forma do porquê do teu sorriso, ignoro porque se moldam os teus lábios desse jeito, Nadi, de cada vez que te chamo, por esse nome. Tu, hoje, estás naqueles dias em que não percebes porque me encontro assim. Dizes-me estranha. E, no entanto, sinto-me perfeitamente bem e normal. Perguntas-me se aconteceu algo e abano com a cabeça. Nada Nadi. Não aconteceu nada. Hoje não é um dia diferente de ontem, nem tão igual ao de amanhã. Hoje choviscou em cima da minha cabeça pequenas gotas de orvalho que nem chegaram a tocar-me o tecido do corpo. Mas era bonito sentir carícia anti-fisicas da agua miniatura.
Alguém perguntou onde ficava o metro. Disse-lhe que não valia a pena explicar, bastava seguir-me. Ele contou-me que era parecida a uma senhora que conhecia. Terrivelmente parecida só que mais nova. Talvez essa senhora fosse mesmo igual a mim quando da minha idade. Agora era casada e já andava um pouco longe dos trinta. Expliquei que também já lá andava perto. Não acreditou e eu não me importei. Continuei a ouvi-lo chamar-me menina. Menina-isto e menina-aquilo. Agradeci porque nesta vida devemos ser sempre gratos pelas coisas bonitas que nos dizem ou nos fazem.
Os nossos passos apressaram-se. O orvalho transformou-se em chuva e olhei para cima onde debaixo de um céu bipolar, entre o cinza e o azul, parei para roubar um pouco de um dos dois arco-iris que nasceram, só para interrogar-me, outra vez, porque é que se moldam os teus lábios cada vez que te chamo Nadi.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

18/100 – Soneto

Dedicado a João Horta, ps: as flores não se comem.. De dia nem existem assobios Rua quieta com gente inexistente Entre uma esquina e avenida sente-se diferente Ligeiramente nitroglicerina, sem boca, sem olhos Seu nome não está escrito em parte alguma O corpo, este, desencaixa-se dos hábitos É um autocolante da cidade dos danificados Talvez pertença aonde o seu regaço não se consuma É turista na terra de ninguém É dama-viagem, Dama-sem-vintém Dama de romance, do poema mas Dama sem miséria Sua vontade de faminta, é outra E se ela cola-se nos teus braços agora É porque também não a mandaste embora.

Suicídio fingido I

A verdade é que o pensamento de fechar os meus olhos para o nunca mais Tornou-se numa doce obsessão Compulsiva É claro que após esses segundo iluminou-se toda a logística. Como fazer para não responsabilizar o corpo morto encontrado na banheira de pulso aberto, Ou sera a boca babada envenenamento de medicação prescrita. Os ruídos de tais pensamentos dão comigo em doida e qualquer tarefa minimalista assemelha-se  as olimpiadas. Existe ainda a crença que naquele fim de dia devia ter partido sem deixar rasto Sem deixar "mas porquê?" e os demais lamentos. MAs a ideia de limpar toda esta dor é tão tentadora como doce. Limpar-me do corpo e da pele. Da idade e da face. Será parvoíce dizer que esta fantasia não anula o facto sem demasia de querer novamente ser parte da multidão e voltar a rir sem demasia nem razão.